terça-feira, 29 de junho de 2010

Mais um ponto.


"O homem nasceu para aprender, aprender tanto quanto a vida lhe
permita".

Guimarães Rosa

Ponto. Entre a questão de ensinar ou de aprender, na vida, a melhor opção é viver. Parece ser redundância o último período grafado, mas representa o quão é inócuo posicionar-se diante das quase normas de condutas. O dinamismo dos fatos e das circunstâncias fazem com que os dois quesitos sejam pilares em constantes transformações de pensamentos e de abordagens do processo de transmissão de conhecimento. Irão existir inúmeros defensores a dizerem que no ensinar há um dom artístico, quase mágico; enquanto, um não-menor número firmará posição na suma competência sócio-biológica de poder aprender sob a égide do determinismo natural. Cada ponto-de-vista especializa-se em se justificar, de preferência, em contraposição ao que se deseja combater; e, a partir daí, polarizam-se. Bem, de versões a versões, vão construindo-se verdades e mais verdades sobre o cimento dos fatos. E a arte? Essa está na maneira livre e espontânea de se associar a um dos pólos. Do nada, pode-se fazer o mundo – isso é arte.

Até o não-fazer poderá ser relevante no pleno processo de ensinar. Aquela dúvida que ocorrera na matemática de há algum tempo e o silêncio atroz da falta de conhecimento por parte dos mais experientes permitiram às mentes vazias produzirem formidáveis idéias: para o bem ou para o mal do exercício diário da disciplina. No entanto, há aqueles que se dedicam a construção ativa do sujeito ávido pelo conteúdo a ser ensinado. Diversas teorias baseadas em bastantes modelos eficazes e em outros nem tanto, aliam-se ou confrontam-se com a fina finalidade de transmitir as informações referenciais. Modelo de sala de aula em ambiente fechado, com normas e uniformes, giz e professores perante a assembléia disposta a sua frente, mostra-se vigente e ainda é eficaz nos dias de hoje. Pouco importa se um gosta ou não entende, a preocupação está na média: determina-se o quanto deverá saber de tudo que fora exposto. A apótema do dodecágono inscrito num certo círculo é tão fundamental quanto os conceitos e as práticas de uma função de primeiro grau. E a arte? Está na abstração da utilidade; na recompensa do final de ano, quando se é aprovado para cursar o próximo ciclo de aprendizado. A arte é a forma de como se entende; se vê e se adquire. Por outro lado, há os que acreditam na aquisição natural do aprendizado, respeitando assim, o tempo particular de cada desenvolvimento cognitivo. Para esses, o indivíduo é uma peça acabada. Será uma questão de horas para o sujeito perceber o seu mundo. Ensinar passa pelas mais energéticas atividades humanas: como dizer a um russo que um bom samba é dois pra lá, dois pra cá? Por mímica? Não sei. A vida imita a arte, mas o oposto...

É assim, dois pra cá, e as pernas soviéticas não acompanham com a mesma naturalidade. É a harmonia, o rítmo, o compasso e o enredo. São muitas variáveis e limitantes, para que a adequada forma de se tentar ensinar torne-se realmente eficiente. A maneira com que o russo apreenderá a mímica está intimamente associado à sua acumulação cultural: sua genética e seu ambiente social. Enfim, depende de sua arte de agir diante dos fatos e dos acontecimentos. Imaginar-te – É rima, é parte, é arte, é cada ponto-de-vista.

Na outra ponta do mister vínculo humano, há os tijolos do grande muro da ciência – a capacidade inata de aprender. Por diversas vias, vêm as informações: pelos olhos, pelos ouvidos, pelas mãos e até pelas narinas e pela boca. Aprender é sentir. E a arte? É o sentimento livre. Não se pode aprender sem sentir emoções; elas permitem o mergulho profundo nas águas do saber. A ciência já demonstrou por alguns ensaios de neurociência que pelo impacto das ações, pelo sentimento, a memória tão necessária para o aprendizado cristaliza-se na mente. É fácil testar tal assertiva, se imaginar, que, além dos cinco sentidos, a capacidade de associação dos fatos ou dos eventos permite resgatar aquilo uma vez já apreendido; seja pela leitura, pela escrita ou pela vivência. Se viver é sentir e aprender é sentir; nem ouse concluir o silogismo. Pronto. Aprender é isso. Uma lembrança; um conhecimento. Os detalhes, só quando interessam.

A uma flor, água, luz e terra. A uma criança, estímulo, atenção e carinho. Pode-se, dessa forma, parecer uma rasa simplificação; no entanto, é o método mais eficaz para levar ao ser em formação as ferramentas fundamentais para o seu construtivismo intelectual. Terão alguns com fortes discordâncias a respeito do método citado. Constrói pra cá, socializa-se pra lá, impõe-se de um jeito ou deixa acontecer, pois tudo que se precisa já vem pronto. Não importa. Nunca se deve esquecer, portanto, da finalidade: transmissão de forma mais agradável a informação. Se é útil, só o tempo e a oportunidade dirão. Cada ser é um universo singular, o qual caberão a ele necessidades especiais, com a atenção que merece. Enquanto o estímulo, vem da dinâmica instável do afluxo de conteúdos referenciais ou informais, capazes de prover sempre o crescimento pessoal; já o carinho, é a ponta mais complexa do processo. Com toda relevância dos sentidos, da lembrança, das emoções dos acontecimentos ou do impacto dos fatos, a maneira de se abordar, mostrando-se próximo e atento às dificuldades particulares, com todo carinho à disposição, é fundamental. Inicia-se lá pelos primórdios da comunicação, em que os pais, ou quem se dedica à criança, preocupam-se com o olhar, com o toque, com, de novo, a atenção; visto que são esses primorosos momentos que cada indivíduo sentir-se-á protegido, seguro de si e apto para aprender e logo ensinar; é como se fosse um repositório de segurança sendo completado, e, quando mais cheio, mais se consegue transmitir; quando se menos, por pouco tempo. Segurança permite ter força. Fornece poder. E dela se emana a faculdade do aprendizado ativo, aquele que, por interesse próprio, liberta os seres umbrais da terrível sombra da ignorância. Sem vontade, sem luz.

Até um computador pode ensinar, devido a sua alta capacidade de armazenagem de informações, fazendo a interface humana aprender; pois, pela arte dos sentidos, é que o lúcido entendimento é possível. Do contrário, é a ausência de substanciais indefinições da natureza humana, tais como: sentir, ter vontade, consciência; que faz do computador uma criatura estática, limitada com seu raciocínio binário. O que adianta garantir o pleno acesso às notícias e às informações, seja através da memória, seja da conexão entre computadores; se o que permite o rico espírito dinâmico e ávido pelo desenvolvimento pessoal é a ímpar função de sermos eternos na arte: tudo tem a sua duração; tudo se acaba; menos a vista de cada ponto, menos o ponto de cada vista, menos o ponto-de-vista de toda obra de arte. A arte expressa-se.

Pode-se, com isso, perceber que a arte permeia ambos os pilares. É a forma autônoma de estar vivo, além de possuir todas as funcionalidades vitais. Respirar todos os viventes o fazem; mas viver intensamente, com sangue e com a consciência das emoções correndo lado a lado nos vasos, é algo unicamente humano. Toda e qualquer explicação acerca da arte de ensinar será insuficiente para se deixar inteligível a arte de aprender. São mais do que dois em um; mais do que mão e a luva; mais do que importantes ou prioriários; são artes. São expressões de cada vivência passada por um único ponto; mais um ponto de vista na circunferência dos fatos e dos acontecimentos.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Encontros e compassos.

Querido,

realmente a poesia, a canção com a dose e a medida certa de melodia, com emoção, brota como cada respiração. Eu, ainda não tenho a experiência da paternidade, mas Deus me proporcionou a graça de ser tio de três lindas, imprescindíveis, sobrinhas. A cada uma, um soneto. É a forma que dedico a expressar o que sinto de maneira mais universal. Os olhares, o afago, o toque de pele e de cor, o frio e o suor singulares ficam para a nossa aliança genealógica.

Não preciso registrar para curtir todo o segundo, momento ímpar de vocês. Pelo texto, pela música, pelo tom fluido das palavras e rimas já testemunha esse sopro, "essa ventania" necessária para viver.