terça-feira, 25 de novembro de 2008

No tempo, nada resiste

É difícil acreditar, mas a verdade e a justiça sempre vêm. Obviamente, não se deve sentenciar algo que já permanece em tempos idos. A moral transforma-se de maneira lenta e não se precisa dissertar linhas para fundamentar tal assertiva, pois outros tantos estão em estantes e em páginas, a fim de serem inqueridos sobre o tema. No caso da implicação de uma descoberta científica acerca do posicionamente relativo do planeta Terra, o que mais notabiliza-se é a mudança brusca e o salto qualitativo dos pensamentos da época. Ser ou não ser heliocêntrico significava perceber alterações nítidas de ética. Para o tempo, resta apenas a certeza constante
da presença dos fatos. Para o tempo, tudo é pouco.








CIDADE DO VATICANO (AFP) - O Vaticano quer reeditar as atas do julgamento de Galileu para "refrescar a memória" daqueles que acusam a Igreja Católica de ter condenado o célebre cientista (1564-1642) por suas teses sobre o universo, informou nesta terça-feira a agência Ansa.

"Galileo Galilei jamais foi condenado", declarou à agência Monsenhor Gianfranco Ravasi, presidente do conselho pontifical para a Cultura, à véspera da abertura de um congresso organizado pelo Vaticano sobre "a ciência 400 anos após Galileu".
A condenação de Galileu à prisão, pronunciada em 1633 pela Inquisição após um longo processo no qual se arriscava a uma condenação à fogueira, não foi, na realidade, jamais assinado pelo Papa Urbano VIII.
Mas o sábio, defensor da tese heliocêntrica do universo, segundo a qual a Terra gira em torno do Sol, foi obrigado a se retratar, concluindo sua preleção com a célebre frase "Eppur si muove".

O Vaticano, progressivamente, reconheceu seus erros no assunto Galileu, perseguido menos por suas teses propriamente ditas do que por suas implicações teológicas. João Paulo II o homenageou em 1992 e uma estátua do Grande Físico, Matemático e Astrônomo, deve ser instalada e inaugurada em 2009 nos jardins do Vaticano.
Um congresso sobre Galileu está sendo organizado em conjunto em Roma pelo conselho pontifício para a Cultura e o grupo industrial italiano Finmeccanica.

As Nações Unidas proclamaram 2009 ano internacional da astronomia para comemorar a primeira utilização de um telescópio por Galileu.

Durante a vida, o cientista elaborou a balança hidrostática que, posteriormente, deu origem ao relógio de pêndulo. A partir da informação da construção do primeiro telescópio, na Holanda, ele construiu a primeira luneta astronômica e, com ela, pôde observar a composição estelar da Via Látea, os satélites de Júpiter, as manchas do Sol e as fases de Vênus. Esses achados astronômicos foram relatados ao mundo através do livro Sidereus Nuntius (Mensageiro das Estrelas), em 1610. Foi através da observação das fases de Vênus, que Galileu passou a ver mais embasamento na visão de Copérnico (Sistema Heliocêntrico, o Sol como centro do Universo) em relação à de Aristóteles, onde a Terra era vista como o centro do Universo.

Por sua visão heliocêntrica, o astrônomo italiano foi a Roma em 1611, para tentar se defender da acusação de herege, terminando por assinar um decreto do Tribunal da Inquisição, onde declarava que o sistema heliocêntrico era apenas uma hipótese. No entanto em 1632, ele deu continuidade aos seus estudos.

Em 1642, morreu cego e condenado por suas convicções científicas. Contudo, uma de suas obras (sobre mecânica) foi publicada mesmo com a proibição da Igreja, pois seu local de publicação foi em zona protestante, onde a interferência católica não tinha influência significativa. A mesma instituição que o condenou o absolveu muito tempo após a sua morte, em 1983.

http://br.noticias.yahoo.com/s/afp/081125/mundo/religi__o_vaticano

1964 - o ano que não acabou...

Atentem bem aos que estão destacados. Além de não incentivar à cultura ou ao acesso a ela, querem ainda dificultar o que já existe para diminuir o abismo colossal entre os citadinos. Cota nas universidades; cotas em cargos públicos; cota para os transeuntes frequentadores de veículos de massa; agora, cota para a cultura. Isso não é censura? Quando foi para classificar os programas, interessados, ou não, apareceram na mídia para atacar o governo, estigmatizando-o de censor. No entanto, quando é para os interesses do outro lado, oculto, das finanças, não há problema: ganha-se artista, ganha-se diretor; ganha-se produtor; ganha-se muito para poucos. Se o problema são os crimes, coibem-se. O justo não poderá pagar pelos pecadores. Se há muitos desvios da norma, então pensa-se em outro modelo, distinto do vigente. Por exemplo, aumenta-se o número de casas de espetáculo, de peças, de exposição; exige-se modelo padrão, com símbolo oficial; ou até paga-se a diferença, sugerindo às escolas escolherem tais atividades como sendo mais uma forma de avaliação. Senadores, deputados, pensai-vos. E não nos furtem o direito de sermos livres para pensar; para aprender.




2 horas, 54 minutos atrás

A Comissão de Educação do Senado aprovou hoje o projeto da senadora Marisa Serrano (PSDB-MS) que regulamenta a meia-entrada em casas de espetáculo, cinemas, shows artísticos, culturais e esportivos. A regra vale para estudantes e idosos com mais de 60 anos de idade. O projeto restringe a emissão da carteira de estudante apenas para matriculados em ensino regular e impõe uma cota de 40% de meia-entrada por espetáculo. O projeto combate a indústria de carteiras de estudante falsas que proliferou no País desde 2001, quando foi permitida a emissão de carteira por qualquer entidade, sem a necessidade de comprovação do estudante.

O projeto também cria o Conselho Nacional de Fiscalização, Controle e Regulamentação da Meia-Entrada e de Identificação Estudantil, que será vinculada à Secretaria-Geral da Presidência da República. A sessão de votação, na Comissão, foi prestigiada por artistas e produtores. Entre eles estavam Christiane Torloni, Wagner Moura e Beatriz Segall.
Os artistas vinham reclamando do prejuízo nos shows e espetáculos com o derrame das carteiras de estudante falsas, que chegavam a ocupar 80% dos espetáculos, obrigando a elevação do preço do ingresso para os não-estudantes. O projeto segue agora para o plenário do Senado e, se aprovado, seguirá para a Câmara. Caso não ocorra alteração, será encaminhado depois para a sanção presidencial. A expectativa é de que o projeto só entrará em vigor no primeiro semestre de 2009.


http://br.noticias.yahoo.com/s/25112008/25/manchetes-comissao-senado-aprova-projeto-da.html

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Sem versão

Parents always

The daylight was lit in my eyes
Where he saw the golden age of my parents
With all infinite goodness of god
I want to live, I want more

It is impossible to undo the ties
Paternal united with love
The first look at the last step
surely need to heat your

just like, of the flower, the seed
us till the end, they feed
without debt, without hurt, without spite

then summed up in life and in peace
their presence, making for me
the time for generations anti-enduring

sábado, 1 de novembro de 2008

Manual do bem-comum

RECÔNDITOS DO MUNDO FEMININO

Baseado na crença de uma natureza feminina,
que dotaria a mulher biologicamente para
desempenhar as funções da esfera da vida privada,
o discurso é bastante conhecido: o lugar da
mulher é o lar, e sua função consiste em casar,
gerar filhos para a pátria e plasmar o caráter dos
cidadãos de amanhã. Dentro dessa ótica, não
existiria realização possível para as mulheres fora
do lar; nem para os homens dentro de casa, já que
a eles pertenceria a rua e o mundo do trabalho.

A imagem da mãe-esposa-dona de casa
como a principal e mais importante função
da mulher correspondia àquilo que era
pregado pela Igreja, ensinado por médicos e
juristas, legitimado pelo Estado e divulgado
pela imprensa. Mais que isso, tal representação
acabou por recobrir o ser mulher – e a sua
relação com as suas obrigações passou a ser
medida e avaliada pelas prescrições do dever
ser.

No manual de economia doméstica O lar
feliz
, destinado às jovens mães e “a todos
quantos amam seu lar”, publicado em 1916,
mesmo ano em que foi aprovado o Código
Civil da República, o autor divulga para um
público amplo o papel a ser desempenhado
por homens e mulheres na sociedade, e
sintetiza, utilizando a idéia do “lar feliz”, a
estilização do espaço ideologicamente
estabelecido como privado.

“Nem a todos é dado o escolher sua morada,
pois em muitos casais a instalação depende
da profissão do chefe”, afirma o compêndio,
em consonância com o Código.

“Entretanto à mulher incumbe sempre fazer
do lar – modestíssimo que seja ele – um templo
em que se cultue a Felicidade; à mulher
compete encaminhar para casa o raio de luz
que dissipa o tédio, assim como os raios de
sol dão cabo dos maus micróbios (...). Quando
há o que prenda a atenção em casa, ninguém
vai procurar fora divertimentos dispendiosos
ou prejudiciais; o pai, ao deixar o trabalho de
cada dia, só tem uma idéia: voltar para casa, a
fim de introduzir ali algum melhoramento ou
de cultivar o jardim. Mas se o lar tem por
administrador uma mulher, mulher dedicada e
com amor à ordem, isso então é a saúde para
todos, é a união dos corações, a felicidade perfeita
no pequeno Estado, cujo ministro da Fazenda é
o pai, cabendo à companheira de sua vida a pasta
política, os negócios do Interior.”

A descrição harmoniosa do “pequeno Estado”
discriminava as funções de cada um,
atribuindo ao marido e à mulher papéis
complementares, mas, em nenhum momento,
igualdade de direitos. Acentuava-se o respeito
mútuo, que pode ser traduzido como a
expressa obediência de cada sexo aos limites
do domínio do outro. Nas palavras de Afrânio
Peixoto, “iguais, mas diferentes. Cada um
como a natureza o fez”.


(MALUF, M. e MOTT, M. Lúcia. Recônditos do mundo feminino. In: SEVCENKO, N. (org.). História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.)

A origem de um formidável boato.

O MUNDO PARA TODOS

Durante debate recente, nos Estados Unidos, fui questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para uma resposta minha.
De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Respondi que, como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, podia imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a Humanidade. Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro.
O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Os ricos do mundo, no direito de queimar esse imenso patrimônio da Humanidade.
Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
Durante o encontro em que recebi a pergunta, as Nações Unidas reuniam o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA.
Por isso, eu disse que Nova York, como sede das Nações Unidas, deveria ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza especifica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.
Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa.

(BUARQUE, Cristovam. O Globo, 23/10/2000.)

Textos que formam; textos que o tempo não apaga 2

UM BOI VÊ OS HOMENS


Tão delicados (mais que um arbusto) e correm
e correm de um para outro lado, sempre esquecidos
de alguma coisa. Certamente, falta-lhes
não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres
e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves,
até sinistros. Coitados, dir-se-ia que não escutam
nem o canto do ar nem os segredos do feno,
como também parecem não enxergar o que é visível
e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes
e no rasto da tristeza chegam à crueldade.
Toda a expressão deles mora nos olhos – e perde-se
a um simples baixar de cílios, a uma sombra.
Nada nos pêlos, nos extremos de inconcebível fragilidade,
e como neles há pouca montanha,
e que secura e que reentrâncias e que
impossibilidade de se organizarem em formas calmas,
permanentes e necessárias. Têm, talvez,
certa graça melancólica (um minuto) e com isto se fazem
perdoar a agitação incômoda e o translúcido
vazio interior que os torna tão pobres e carecidos
de emitir sons absurdos e agônicos: desejo, amor, ciúme
(que sabemos nós?), sons que se despedaçam e tombam no campo
como pedras aflitas e queimam a erva e a água,
e difícil, depois disto, é ruminarmos nossa verdade.


(ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião: 10 livros de poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977.)


Mulher ao espelho


Hoje, que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.

Já fui loura, já fui morena,
Já fui Margarida e Beatriz.
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.

Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?

Por fora, serei como queira
a moda, que me vai matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.

Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus,
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.

Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.

MEIRELES, Cecília. Poesias Completas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973.)

Textos que formam; textos que o tempo não apaga

EM DEFESA DA RAZÃO

Estou chegando aos 70 anos. Minha geração assistiu a mais revoluções científicas, tecnológicas e sociais do que todas as gerações anteriores. Com essa experiência de vida, preocupa-me o que estamos deixando para os nossos netos: um mundo onde as pessoas desconfiam dos cientistas e se entregam às crendices. Um mundo de violência, injustiça e desencanto, que abre espaço para a exploração do desespero da população.
Durante décadas, lutei desesperadamente para trazer racionalidade às gerações que me sucederiam, acreditando na ciência e em suas conquistas. A caminhada do homem na Lua, as fotos dos planetas distantes, os computadores, a televisão direta dos satélites, as vacinas que eliminaram da face da Terra a varíola e a poliomielite, os remédios desenhados em computadores que curam o câncer quando detectado a tempo, os transplantes de coração e rins, a biotecnologia gerando plantas mais resistentes e mais produtivas, que liquidaram com a profecia de Malthus, afastando o perigo da fome universal. E, apesar disso, o que colhemos? Uma geração de crédulos sem capacidade crítica.
Até mesmo as pessoas que seguiram carreira técnico-científica não entendem a racionalidade da ciência. Consomem toneladas de pseudomedicamentos sem nenhum efeito positivo para o organismo. Engolem comprimidos de vitaminas que serão eliminadas na urina. Consomem extratos de plantas com substâncias tóxicas e abandonam o tratamento médico. Gastam fortunas com diferentes marcas de xampu que contêm sempre o mesmo detergente, mas anunciam“alimentos” para os cabelos, quando estes recebem nutrientes diretamente do sangue que irriga suas raízes. Há os que untam o rosto com colágeno – geléia de mocotó – e ovos e acham que estão rejuvenescendo.
Fui professor de colégio e de faculdade de medicina. Fiz pesquisas, formei uma dúzia de discípulos que hoje pesquisam, são professores universitários e já criaram meia centena de meus netos intelectuais. Na universidade, desenvolvi um novo modelo de ensino médio.
Revolucionei o ensino das ciências nas escolase improvisei na televisão o primeiro programa de ensino de ciência. Produzimos novos livros substituindo totalmente o conteúdo do ensino.
Por tudo isso, fico pasmado ao ver que, às portas do ano 2000, as pessoas lêem horóscopos sem jamais comparar as previsões da véspera com o que realmente aconteceu. Desconfiam dos cientistas, mas acreditam nas cartomantes,que prevêem o óbvio. Formamos uma geraçãode pseudo-educados, que querem ser enganados nas farmácias, pelos curandeiros que enfiam agulhas em seus pés e manipulam sua coluna, pelos ufologistas, que vêem extraterrestres chegar e sair sem ser detectados pelos radares. Uma geração que se deixa levar por benzedeiras e charlatães com suas poções, por anúncios desonestos na televisão e por pregadores a quem entregam parte do salário. Saem as descobertas e as experiências científicas e entram os duendes, anjos e bruxos.
Mas nem tudo está perdido. Ainda há quem encontre motivação para se guiar pelo racionalismo e pela ciência – e para mudar. E há muito que fazer. É preciso combater o irracionalismo e as mistificações, onde quer que eles se manifestem: na televisão, nos locais de trabalho, nas faculdades. Podemos começar pela educação. Hoje, as pessoas passam um terço da vida nas salas de aula sem aprender e ninguém se importa. Criamos robôs que nos permitem ter uma produção cada vez maior de bens, mas ficamos prisioneiros de uma sociedade cada vez menos justa. Numa sociedade em que a ciência expandiu a longevidade do homem, não oferecemos à maioria da população segurança física nem acesso ao que a medicina moderna pode oferecer – nem mesmo a garantia de teto e comida.
Enfim, criamos um campo propício para aproliferação dos enganadores. Está na hora de quebrar a insensibilidade dos governos e das lideranças para tentar corrigir isso. Não será nos entregando à irracionalidade que sairemos desse buraco e construiremos um futuro melhor para os nossos netos.
(RAW, Isaias. Veja, 09/04/1996.)