quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Re-significação

Ressignificação


Há um aperto, força constrictora de amargura

que ninguém sabe de onde vem

e nem como surge

uma força muda, sem igual intensidade

com choros, com sofrimentos

singulares



a tal força torce, retorce por dentro

rangendo dentes, sardonicamente,

impura de emoções menores, baixa

aos nossos desafetos.




Re-leitura

Transformação

Já fui um
e muito mais:
sozinho e com todos
já fui um.

Hoje, tento não ser
hoje, sou o que não era
hoje, os olhos brilham
apagados.

Saio por uma fresta
como quem escolhe
a outra
a que não poderia ser.

O ponto e a pedra
a pedra afunda
e o ponto
acaba.

A beleza está aí:
na simples natureza morta
no conceito mais primitivo
de ser feliz.

A pedra afunda
a chuva molha
o beijo amado
o riso infantil.

O ontem, um
hoje, nada
amanhã, não sei.



Ecos da história


Comunidade acadêmica, uní-rio!
15.3.2009

Palavras são apenas palavras. Nada que se escreve ou que se fala é capaz de mover um átomo sequer da vontade de ver um bem-comum melhor. Às vezes, parecem flores, mas são poesias; outras vezes, farpas; mas são puras grosserias. É chegada a hora para alguma coisa. Não sei o que é, porém há de ter a certeza de mudança.

Para começar, saber todas as negativas já é o começo. Não quero isso. Não quero aquilo. A vontade coletiva parte dos interesses pessoais e os interesses pessoais limitam-se pelo respeito aos ditames coletivos, garantindo o convívio ético das diferenças. Têm-se três, pelo menos, esferas de conflito: docente, discente e técnicos-administrativos. Cada uma delas possui suas prerrogativas, mas todas pertencem a um bem maior. Não interessa se é bom ou foi bom; e sim se para o convívio próximo houve mudanças, já lembradas noutro momento.

Depois, há também de não se esquecer que uma fase é composta por vários períodos, no dia à dia, de modo arrastadamente gradual. Se todos andassem com um diário, notas e mais notas seriam ao fim mais do que lembranças: seriam marcos de produtividade. Num momento em que se gasta tanto tempo e dinheiro para sensibilizar a todos da extrema concorrência, globalização, a produtividade torna-se o pilar mister do avanço institucional baseado no tripé - já clichê - ensino, pesquisa e extensão. A memória engana o povo. As lembranças são de quem as dominam por critérios de seleção.

E agora? Existem caminhos diversos e não sabemos do futuro. Ora, o mínimo é andar junto. Ter uma forte ressonância e convergência de interesses. Nesse caso, dá para vislumbrar também somente três: dos docentes, discentes e técnicos-administrativos. Escolher, com isso, se torna mais fácil de, na hora da assembleia, ideias serem confrontadas e, a partir daí, emergir uma síntese melhor possível. “Quem não discute, não tem direito de reclamar” é um dos ditados mais falados por meu avô.

A sabedoria vem de longe e não precisa estar numa universidade para tê-la. A roda já foi inventada e o que se faz é criar mais efeitos para a sua função. Está tudo pronto em nossa universidade, só faltam mais efeitos de luz, câmera e ação, porque brilho próprio ela possui. Cada membro desta honrosa Universidade ilumina mais do que seus corredores; mais do que suas salas; leva luz ao mundo em que se vive com suas geniais e peculiares contribuições. Somos a roda. E queremos um merecido designer de reconhecimento e não uma carcaça velha de museu que nos impuseram.

As idéias são as mesmas e a luta continua. Queremos melhores condições de trabalho. Queremos capacitação profissional. Queremos difundir conhecimento. Queremos uma só paixão. Somos Unirio. Somos um corpo com vários membros, que, sem um deles, sentimos uma imensa falta.

É a hora! Independente de qual for o resultado, deve-se levar para sempre a lição de fazer de uma fase (gestão administrativa), uma caminhada, onde as lembranças ficam no papel e a memória no presente de quem faz a História acontecer. Todo ponto-de-vista converge-se sob o mesmo raio para um centro. Plural, mas soberano. Diverso, mas único. Coerente, mas paradoxal como qualquer desfecho que nunca acaba.



Retro-perspectiva

Transitividade

Nasce o dia, bom dia!
pensamentos voam vazios
o ser entra nas narinas
a cada segundo de vivência

Pena, pedra, ponto
pelo, pinto, para,
pêra, pára, porta
pele, pata, pinta

pinta, pêlo, puto
porco, pisca, pomo
pica, pixe, porca
pulga, pilo, pólo

Nem tudo vem
como vão todos por aí
palavras saem sem saber
sem tino, sem razão.

A imagem fica
as pessoas mudam




Retro-visor

Vivendo na epiderme

À superficialidade, riso frouxo. Rimas e versos pretensiosamente ricos, com medidas precisas, obedecem a lógica do eco fácil, da rima pobre e do conteúdo vazio.

Sobre o tema, há muito que discutir. Nunca foi simples posicionar-se diante de fenômenos, de eventos excepcionais que causam tanto estranheza quanto dúvidas. Além da legitimidade, das implicações técnicas da medicina, do caráter penal primário do estupro, da ordem moral; tem ainda o senso comum, natural, de cada ser humano a respeito do acontecimento. O unanimidade, por isso, é impulsiva. No entanto, a justiça é contemplativa.

Se por um lado, na ordem de trânsito, os maiores protegem os menores; da mesma maneira, a ética cristã baseia-se: O estuprador é fácil identificar e, com isso, os crimes e as penas são rapidamente enquadrados e setenciadas. A sociedade facilmente compadece-se com a menina. E o menor de todos? O que ele merece? Quem o nota? De outro modo, não é porque me xingaram ou humilharam dentro de meu carro, que me dão o direito de matar quem o fez. Aí, têm-se três vértices bem definidos: O agressor, a vítima e o veículo. O primeiro com sua pena; o veículo com seus possíveis danos e a vítima? Nessa atmosfera, a avaliação de danos é mal definida; porém, os limites individuais são facilmente percebidos. A cada um, com o seu propósito.

Com tantos avanços na Medicina, Psicologia, Pedagogia, com tentativas frustras ou não de prolongar a vida no respirador, por que não tentar salvar dois seres humanos: uma vítima e um inocente? Onde há vida; há esperança.

Agora, aos risos:


Cordel dos excomungados
Miguezim de Princesa*

I

Peço à musa do improviso
Que me dê inspiração,
Ciência e sabedoria,
Inteligência e razão,
Peço que Deus que me proteja
Para falar de uma igreja
Que comete aberração.

II

Pelas fogueiras que arderam
No tempo da Inquisição,
Pelas mulheres queimadas
Sem apelo ou compaixão,
Pensava que o Vaticano
Tinha mudado de plano,
Abolido a excomunhão.

III

Mas o bispo Dom José,
Um homem conservador,
Tratou com impiedade
A vítima de um estuprador,
Massacrada e abusada,
Sofrida e violentada,
Sem futuro e sem amor.

IV

Depois que houve o estupro,
A menina engravidou.
Ela só tem nove anos,
A Justiça autorizou
Que a criança abortasse
Antes que a vida brotasse
Um fruto do desamor.

V

O aborto, já previsto
Na nossa legislação,
Teve o apoio declarado
Do ministro Temporão,
Que é médico bom e zeloso,
E mostrou ser corajoso
Ao enfrentar a questão.

VI

Além de excomungar
O ministro Temporão,
Dom José excomungou
Da menina, sem razão,
A mãe, a vó e a tia
E se brincar puniria
Até a quarta geração.

VII

É esquisito que a igreja,
Que tanto prega o perdão,
Resolva excomungar médicos
Que cumpriram sua missão
E num beco sem saída
Livraram uma pobre vida
Do fel da desilusão.

VIII

Mas o mundo está virado
E cheio de desatinos:
Missa virou presepada,
Tem dança até do pepino,
Padre que usa bermuda,
Deixando mulher buchuda
E bolindo com os meninos.

IX

Milhões morrendo de Aids:
É grande a devastação,
Mas a igreja acha bom
Furunfar sem proteção
E o padre prega na missa
Que camisinha na lingüiça
É uma coisa do Cão.

X

E esta quem me contou
Foi Lima do Camarão:
Dom José excomungou
A equipe de plantão,
A família da menina
E o ministro Temporão,
Mas para o estuprador,
Que por certo perdoou,
O arcebispo reservou
A vaga de sacristão.

(*) Poeta popular, Miguezim de Princesa é paraibano e está radicado em Brasília.

http://recantodasletras.uol.com.br/cordel/1480133



Re-visão

Coração de Pedra

Acerca do marco inicial, do espanto de onde e como viemos, o zero tem o seu valor máximo. Ele é o nada, que resulta tudo. A ausência mais completa que um sentimento humano pode perceber. Do zero, uma pedra; do zero, mais zeros.

Para isso, para o zero e para todas as pedras, lanço uma homenagem à pedra angular de nossas vidas; à pedra sobre todas as pedras: à nossa mãe.

Do nada, do indefinido, do pingo que seja alguém, surge algo. Pedras no caminho? Mais caminho.

Pedra, caminho, pedra



O princípio não sei
complemento o ambíguo
quem, o quê, quando

Uma gota pode ser muito
tudo pode ser pouco
pedra, pingo, ponto

Um choro pode ser nada
rir pode ser muito
água, pingo, ponte

Uma palavra pode ser nunca
gestos podem ser sempre
fome, pingo, ponta

Um pai pode ser alguém
filhos podem ser ninguém
verdade, pingo, pinta

Mãe, mãe é para sempre toda
amor que não tem igual
amizade, pingo, ponte

Algo pode ser indefinido
sujeito pode ser indeterminado
um pingo pinta

quem?




sábado, 7 de agosto de 2010

Rivo, ouvi-nos!

Há um grito
um susto
galopante

quero dizer
e nada
falo

a todo momento
um desafio de ser
alguém

Vento vai
vento vem
e o que
fica?