sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Homenagem ao Fausto Wolff.

"Meu último e-mail ao Fausto

Caro amigo Fausto, Quando te conheci meus cabelos cobriam as orelhas, tocavam meus ombros e sonhava ser John Lennon ouvindo Tom, Vinícius, Nelson Cavaquinho e o Clube da Esquina. Naquela época a energia era muita e você passou a ser meu `Personal Trainer` naqueles exercícios aeróbicos de arremesso de pedras na Av. Rio Branco e corridas de fuga dos soldados da polícia. Com o tempo deixou de treinar meu corpo e passou a ser referência para a minha mente. Perseguia-te semanalmente no Pasquim e às vezes te acompanhava nesse imenso circo da vida e vimos juntos o acrobata pedir licença e cair. Por um longo tempo acompanhei a tua mão esquerda e percebi o tanto que tínhamos em comum. Você não dizia o que eu queria ouvir. Era mais do que isso. Você dizia o que eu queria dizer. Por um tempo você sumiu. Me disseram que andava pela Dinamarca e Itália, mas no fundo eu tinha certeza que voltaria ao teu país. Esse mesmo país que você tanto amou e tanto quis ter orgulho. Na tua ausência, montei outra casa, casei, tive filhos, mas teus livros na estante continuavam aguardando o teu retorno. Tinha certeza de que voltaria.Pareciam ser novos tempos aqueles em que Brizola voltou. E você também voltou!!! Voltei pra rua, fiz campanha pra ti, gaúcho maluco! Novos livros, mas sempre as mesmas idéias de justiça, indignação e luta. Sempre desconfiei que o homem era mesmo seu próprio algoz e mesmo você estando mais difícil de se encontrar, continuei te catando onde você estivesse.
Finalmente o JB te reencontrou e nossa convivência passou a ser diária. Minha primeira leitura do dia era você. Com essa intimidade cotidiana passei a ousar mais, me atrevendo a te mandar cartas e e-mails com o respeito de um menino que manda cartinhas ao seu mais querido professor. E você sempre respondia. E qual não foi minha surpresa quando, num sábado de 2005, chegando ao trabalho, o rapaz dono da banca de jornal grita enquanto eu estacionava o carro: Seu Carlos, o Fausto publicou uma carta tua na coluna dele do JB. Caramba, o Fausto fazer das minhas palavras as suas. E isso voltou a acontecer por mais três ou quatro vezes. E agora você vai embora de vez e não tem mais retorno.Quem eu vou ler todas as manhãs, Fausto? Quem vai me ajudar a entender que não sou o único a lutar contra a corrente? Quem vai me dizer, todas as manhãs, que a luta continua? Assim como você eu queria um Mundo mais justo, eu queira um Brasil melhor, eu queria as crianças estudando e livres do crime e da miséria, eu queria chances iguais a todos e queria, principalmente neste momento, acreditar em Deus pra te mandar uma oração, mas como não posso te mando minha admiração, meu respeito e MEU MUITO OBRIGADO! Esteja aonde estiver receba um carinhoso abraço e, me permita, um beijo deste velho socialista e amigo."
Carlos Alberto Neves.
PS: Minha filha me deu teu último livro Olympia, mas não vou abrí-lo por enquanto. Preciso de mais tempo pra isso.

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